Yemen
Motivação
Sem, filho de Noé, ao olhar para baixo e ver a cidade por cuja fundação leva os créditos, Sana’a, hoje capital de um país, Iêmen, deve ter dificuldade de não ser tomado por um dos sete pecados capitais, o orgulho. A cidade ficou tão perfeita que seus habitantes a mantêm há milênios inalterada, com as casas passando de pai pra filho há incontáveis gerações. Enquanto se refestela no orgulho do trabalho bem feito, Sem deve sorrir, mas aí vai perder, pois é difícil ter um sorriso tão caloroso e acolhedor quanto o sorriso com que seus descendentes recebem os visitantes. Aliás, se há uma palavra que pode sintetizar uma visita ao Iêmen é acolhimento e é isso que nos faz querer voltar ao Iêmen e nos faz nos solidarizarmos com toda a dificuldade por que está passando esse povo tão sofrido.
Todo lugar é único, uma combinação de cultura, arquitetura, história, lendas, imaginário, mas conheço poucos em as gentes sejam tão marcantes. Gosta de arquitetura e história? vá ao Iêmen. Gosta de cultura milenar? vá ao Iêmen. Mas principalmente, gosta de gente? então não deixe mesmo de ir ao Iêmen.
Visitei o Iêmen em 2008, num salto de Dubai em uma volta ao mundo. Numa volta ao mundo, é mais fácil combinar lugares bem estruturados para o turismo com outros off track. Aproveitei, então, para incluir lugares aos quais eu dificilmente iria como destino único, até mesmo pelo risco de não ficar completamente satisfeito e desperdiçar uma viagem. Foi nesse contexto que incluí a viagem ao Iêmen, num pulo de 5 dias de Dubai e não poderia ter ficado mais satisfeito.
Lembranças marcantes
- “Sura, sura”, gritam as crianças e até alguns adultos correndo atrás dos turistas com câmaras pedindo para tirar fotos. É um dos poucos lugares muçulmanos que conheço em que as pessoas não se incomodam de tirar fotos e ficam claramente felizes.
- “Welcome to Yemen!”: Perdi a conta de quantas vezes ouvi isso. Acho que devem aprender esta frase antes de “The book is on the table”. Um dos meninos estava mais adiantado e entabulou uma conversa mais rica, como: – How many brothers do you have? e eu respondo: – None. – Sisters?, “Two, respondo eu. – Father?, – One. – Mother?, – One. Foi uma conversa meio surreal, mas ele deve ter entendido.
- São muito receptivos, embora tal não seja a primeira impressão. Todos portam janbiyas, um tipo de cimitarra curta, embainhada na cintura.
- Adoram futebol e esse é o ponto que os une aos brasileiros nas conversas. Querem saber de tudo sobre os melhores jogadores brasileiros. Em um vilarejo do interior, um vendedor da feira com seus apetrechos cuidadosamente estendidos em um tecido branco no chão,ao saber que eu era brasileiro, provavelmente o único estrangeiro por lá, fez questão de ir em casa buscar uma camiseta da seleção brasileira pra tirar uma foto comigo.
- Diferentemente de outros países da península arábica, os desertos no Iêmen são de montes rochosos, com altitudes de mais de mil metros. E a cor das rochas é única, de uma beleza incomparável.
- É o país mais pobre da península arábica, por não ter petróleo. Já era pobre em 2008, quando eu estive por lá. Agora está semidestruído pela guerra estimulada pela Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã. Pobre país.
- Para chegar a uma das cidades incluída no roteiro da operadora de turismo, como eu estava num tour privado, eu teria que esperar na saída da rodovia aguardando que outros turistas tivessem o mesmo interesse. Isso porque só é permitido se aventurar pela rodovia com escolta do exército e naturalmente eles não forneceriam escolta para uma pessoa apenas. Preferi desistir da cidade, não apenas para não ficar perdendo tempo de espera (afinal só tinha 5 dias), mas também por não querer me arriscar em lugar onde estrangeiros talvez não fossem bem vindos. O guia/motorista rapidamente mudou o roteiro e trocou a cidade por uma mais segura.
- Não sei falar árabe, infelizmente, mas fui informado de que, pelo fato de o Iêmen ser um dos países árabes menos abertos ao exterior, teria o idioma que menos sofreu mutações no tempo e seria o mais próximo do árabe corânico. Isso levou vários estudiosos ocidentais a irem ao Iêmen estudar árabe.
- As estradas são ladeadas por rochas das mais diferentes cores e formas. Ao longo do dia, novas cores e brilhos se deixam descobrir, num espetáculo de beleza única.
- O costume (ou vício) de mascar khat (ou qat) é muito difundido. Encontra-se pessoas, desde as grandes cidades até os pequenos vilarejos com dentes vermelhos, sinal de que mascam khat há muitos anos, e com as bochechas cheias das folhas da erva, sinal de que estão mascando. O olhar vazio indica que estão viajando.
- Os iemenitas são excelentes anfitriões. O prazer que sentem em receber visitantes é enorme. Mesmo com a dificuldade de comunicação, pois poucos falam outro idioma além do árabe, esforçam-se realmente em fazer o visitante se sentir bem recebido e em casa. E sorriem sorrisos autênticos, não sorrisos de aeromoça (desculpem as comissárias de bordo).
- Há gente que diz que Sana’a, a capital do Iêmen, é a cidade habitada mais antiga do mundo.
Alguns fatos e percepções
A República do Iêmen localiza-se na extremidade sudoeste da Península Arábica e é limitada ao norte pela Arábia Saudita, a leste por Omã, ao sul pelo mar Arábico e pelo golfo de Aden e a oeste pelo estreito de Bab al-Mandab e pelo mar vermelho. Além do território continental, fazem parte do Iêmen algumas ilhas situadas na extremidade do Corno da África.
O país tem cerca de 27 milhões de habitantes predominantemente muçulmanos da vertente sunita, com uma minoria shiita. A língua oficial é o árabe e a moeda corrente é o rial iemenita. A capital, cidade mais populosa e centro econômico é Sana’a.
O Iêmen é um dos centros de civilização do oriente próximo desde o século XII AC. No início do século II DC, os romanos dividiram a Península Arábica em três partes: a Arábia Pétrea, a Arábia Deserta e a Arábia Feliz:
- A Arábia Pétrea era a região mais ao norte, escarpada e rochosa, onde se encontra a cidade de Petra;
- A Arábia Deserta era a terra habitada por tribos de beduínos que conduziam as caravanas que uniam a Arábia Feliz à Arábia Pétrea, passando pelas únicas duas cidades do imenso deserto, entre elas Meca;
- A Arábia Feliz (arabia felix) era a região localizada no sudoeste da Península Arábica, assim chamada pela riqueza da vegetação, que a distingue do resto da península e da prosperidade advinda de sua posição privilegiada para o comércio marítimo. Diferentemente das regiões norte e central, a água não era escassa e foi muito aproveitada no cultivo do campo. A região era próspera e generosa, sendo o único lugar do mundo onde se produzia a mirra.
A mais importante cidade da arabia felix era Aden, em função de seu grande porto. A região era dividida em tribos e pequenos reinos, dentre os quais, no século VIII AC, o mais poderoso era o dos sabeus, o Reino de Sabá, estado que floresceu por mais de mil anos e estendeu-se à Etiópia e à Eritréia. O reino é célebre pela passagem do antigo testamento em que a Rainha de Sabá visita o rei Salomão. Até hoje cidades do chifre da África disputam com o Iêmen a primazia de terem abrigado a Rainha de Sabá e alegam ter provas disso.
O Iêmen esteve sob domínio etíope e persa e, no século VII, tornou-se um califado islâmico. Já esteve também sob domínio português e egípcio.
No início do século XX, os impérios Otomano e Britânico demarcaram a fronteira entre os territórios que, a partir de então, passaram a ser conhecidos como Iêmen do Norte e Iêmen do Sul. Com o colapso do império turco-otomano na primeira guerra mundial, o norte tornou-se em 1918 um reino independente e em 1962 a República Árabe do Iêmen. O sul permaneceu um protetorado britânico até 1967, tornando-se em 1970 a República Democrática do Iêmen, um estado socialista.
O fim da guerra fria e o colapso da União Soviética abriram caminho para a unificação do Iêmen do Norte ao do Sul e a República do Iêmen foi declarada em 1990, tornando-se presidente o chefe de estado do norte e vice-presidente o do sul.
Atualmente, o Iêmen é um país em desenvolvimento e possivelmente a mais pobre dentre as nações árabes. Acredita-se que vários grupos terroristas atuem no país, o que traz instabilidade para o turismo. No final do século XX ocorreram episódios de sequestros de estrangeiros, o que evidenciou a utilização crescente desse método por parte de alguns clãs para forçar o governo a atender às demandas locais. No início do século XXI, estadunidenses foram mortos em um ataque suicida em Aden e Osama bin Laden, um cidadão saudita de origem iemenita, foi apontado como responsável pelo planejamento do ataque. No mesmo mês, uma bomba explodiu na embaixada britânica e foram detidos quatro iemenitas, que alegaram ter realizado o ataque em solidariedade à causa palestina.
A maioria do país segue a vertente sunita do islamismo. Protestos feitos pela minoria shiita que se autointitula Houthis, apoiada pelo Irã, contra o governo sunita, motivados pela chamada primavera árabe desestabilizaram politicamente o país. O Irã passou a apoiar os houthis, a Arábia Saudita passou a apoiar a maioria sunita até chegar a uma intervenção com apoio dos Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Sudão, Egito, Jordânia, Marrocos, e Catar (até 2017). Os conflitos se intensificaram e hoje o país se encontra em guerra civil e vive a que já é apontada como a maior crise humanitária da atualidade.
Hoje, por óbvio, não é um país seguro para o turismo.
Tour

Fiz um tour privado de 6 dias e 5 noites, cujos detalhes estão descritos em Serviço, com o roteiro ilustrado a seguir (gerado em Google maps) a partir do segundo dia, já que o primeiro foi dedicado integralmente a Sana’a. No segundo dia, fui de Sana’a a Al Hudaydah, no terceiro de Al Hudaydah a Taiz, no quarto de Taiz de volta a Sana’a e nos dois últimos dias fiz um tour saindo e voltando a Sana’a.




Sana’a é a maior e mais populosa cidade do Iêmen, com quase dois milhões de habitantes. Localiza-se no norte do país, a cerca de 2 200 metros de altitude. A parte antiga da cidade, circundada por muros e dividida por muros internos em bairros árabe, turco e judeu, foi consagrada em 1986 pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Sana’a
Sana’a é um centro importante desde o século IV e tornou-se também o centro comercial, cultural e econômico do país.
Segundo a tradição, a fundação da cidade remonta aos tempos bíblicos, tendo sido alegadamente fundada por Sem, filho mais velho de Noé e patriarca das populações semitas, o qual, depois de ter deixado sua terra de origem encontrou uma terra de altas montanhas e vales férteis onde decidiu fundar uma cidade: Sana’a.




Uma das características principais de Sana’a são seus altos edifícios de vários andares de adobe com ornamentos brancos, cujo contraste com o verde da vegetação destaca ainda mais sua beleza. Parecem um bolo de noiva.




O cair da tarde, após as chuvas, é a hora dos mercados populares. Vende-se e compra-se de tudo nas ruas, de panelas, tecido, artefatos para a casa e cozinha a alimentos. A produção de alimentos é local. Em uma das barraquinhas, vi de relance olhos amendoados semiocultos pela burca e desconfiei que não seria iemenita. Muito cuidadosamente perguntei ao dono da venda e fiquei sabendo que era uma japonesa que estava hospedada com ele e a família há alguns meses para estudar árabe. Eles me disseram que o Iêmen é um destino favorito para o estudo do árabe corânico por ser um país em que a língua menos evoluiu no tempo.




Toda tarde chovia uma chuva torrencial, alagando a principal avenida da cidade. Mas a chuva durava pouco tempo e os moradores, já acostumados com a chuva, esperavam seu término e começavam a circular tanto a pé quanto de carro. Imediatamente após a chuva, era o horário do rush nos mercados populares de alimento nas ruas. Todos os dias eu frequentava uma loja de chá onde os homens se reúnem para tomar chá, fumar e conversar. Eu tomava o delicioso chá com acompanhamento de tira gostos árabes vegetarianos. A oferta de quitutes vegetarianos não é farta, mas, feitos na hora, são deliciosos. Pra quem gosta de doces árabes, feitos com mel, é uma beleza.




Com exceção da região de Aden, onde o costume foi abandonado há muitos anos, talvez por ter sido a capital do protetorado inglês, todos os homens a partir de 14 anos usam como acessório de suas roupas uma janbiya (pronuncia-se jâmbia), um tipo específico de adaga ou cimitarra com uma lâmina curva curta de dois gumes, cujo nome deriva da palavra “lado” em árabe, por ser usada no lado de uma pessoa.

Uma janbiya é constituída por um cabo ou punho, uma lâmina e uma bainha na qual a lâmina é guardada. A janbyia é fixada em um cinto feito de couro curtido ou algum tecido grosso. Além do material usado para o punho, talvez a parte mais significativa da janbiya, o design e os detalhes dão uma medida de seu valor e do status social elevado de seu proprietário.
Os cidadãos mais ricos usam janbyias com o punho feito de chifre de rinoceronte ou de marfim, material que os fabricantes recebem de contrabandistas, devido a seu banimento internacional. Ainda hoje vendedores oferecem janbiyas com punhos supostamente de marfim, mas que são na realidade de plástico branco. Outros punhos de janbiya são feitos de diferentes tipos de chifre, madeira, metal e presas de morsas.
A lâmina de dois gumes da janbiya é construída em aço. A lâmina é armazenada em uma bainha geralmente feita de madeira coberta com metal ou tecido. A bainha pode ser decorada com vários ornamentos que também indicam status. Isso inclui trabalhos em prata, pedras semipreciosas e couro. A bainha pode ser fixada em um cinto de couro, que normalmente tem de 5 a 10 cm de largura, usado geralmente ao redor do abdômen inferior.
Apesar de seu significado cultural, a janbiya ainda é uma arma e aqueles que a reconhecem como tal tendem a preferir cabo de madeira. Por ter lâmina curva, a janbyia é mais confortável como uma arma de esfaqueamento do que facas de lâmina reta e pode provocar feridas profundas. Embora as pessoas o tenham usado em tempos de disputa, existem normas sociais e islâmicas que devem ser seguidas para evitar difamação e a janbiya só deve sair da bainha em casos extremos de conflito.
Sabendo que a janbiya é uma arma, dá um certo desconforto ver todos os homens usando-a tão ostensivamente.




“Sura, sura”, gritam as crianças e até alguns adultos correndo atrás da gente pedindo para tirar fotos.





Como em todo o Iêmen, após a chuva era o horário de os homens se reunirem nos chás para conversar e fumar ou nas ruas, para verder suas mercadorias e mascar khat, uma praga difundida em todo o oriente, não apenas no Iêmen. Há controvérsias quanto à sua origem: alguns dizem que a droga é originária do Iêmen, outros da Etiópia. De qualquer forma, hoje o uso do khat é muito difundido no Iêmen, onde 80% dos homens e 45% das mulheres fazem ou já fizeram uso cotidiano do entorpecente. Um percentual significativo da economia do país gravita em torno do uso do khat e seu plantio, segundo especialistas, absorve 30% da água dos lençóis freáticos e 60% dos recursos aquíferos do país. Suspeita-se de que, no distrito de Sanaa, que abrange capital e arredores, há 4.000 poços perfurados sem autorização para irrigar os arbustos de khat. O bombeamento excessivo faz diminuir o nível do lençol freático dos arredores de Sanaa entre três e seis metros por ano.
O consumo de khat, que começa à tarde e se prolonga até tarde da noite, se generalizou nos últimos anos após ter sido, durante muito tempo, um hábito reservado aos ricos. O hábito ocupa durante horas os iemenitas, inclusive mulheres e até mesmo crianças, mesmo que seus efeitos para a saúde sejam considerados nocivos.
O khat tem poderes entorpecentes e mancha os dentes e a gengiva de vermelho, o que torna fácil reconhecer os viciados. Outra coisa que indica claramente que estão mascando khat é a bochecha cheia. Eles colocam todo o khat em um lado da boca, mascam um pouco e passam para a outra bochecha. Também dá pra ver a sensação de alheamento. É um pouco triste.
Eu poderia ter tirado muitas fotos dos homens mascando khat, mas, por respeito, não o fiz.





Sana’a é uma das poucas cidades do mundo, talvez a única, que tem casas habitadas pela mesma família há incontáveis gerações, sem sofrer mudanças arquitetônicas revolucionárias. Desde a Idade Média, a aparência da cidade não mudou substancialmente. Por exemplo, encontra-se casas com obsidiana no lugar de vidros nas janelas. Eu mesmo fiquei hospedado em um hotel na cidade velha com janelas guarnecidas de obsidiana.


Manakhah
Manakhah, uma vila no centro-oeste do Iêmen, localizada na estrada entre Sana’a e al-Hudeidah, já foi o lar de uma comunidade judaica até sua emigração para Israel nos séculos XIX e XX.




Al-Hajjarah
Al Hajjarah, uma cidade mercantil fundada no século XII, situada ao longo da estrada entre Sana’a e Al-Hudeidah, é famosa por seus edifícios construídos nas faces do penhasco e à beira do precipício e por ser grande produtor de pimenta.
Os lugares onde eram erigidas as cidades e burgos na idade média eram escolhidos em função de questões estratégicas, como a proteção natural oferecida pela geografia, e comerciais, que assegurariam sua prosperidade. Quanto maior a riqueza das cidades fortificadas, maior sua densidade populacional, já que não seria seguro que a cidade avançasse além da proteção das muralhas.
A construção vertical mostrava-se uma solução inteligente e, aliada ao fato de que a zona era rica em pedreiras, o que facilitava o fornecimento ilimitado de material de construção, a cidadela de Al Hajjarah ficou famosa por seus imponentes edifícios de pedra, material de onde deriva o nome da cidade, pois hajar significa pedra.
Quando foram construídos, eram os edifícios mais altos da região e provavelmente o primeiro conjunto habitacional do tipo no mundo destinado à vida doméstica, já que o esforço e o custo de levantar construções altas só se justificava com objetivos bélicos ou de defesa, nunca como moradias para o povo. Esta cidade da Idade Média é um exemplo de que arranha céus não são invenção da era moderna.




A cidade é ao mesmo tempo imponente, com seus edifícios atemporais de pedra, e convidativa, com suas ruelas e vielas estreitas. Também aqui é comum janelas de obsidiana.




Eu era provavelmente o único estrangeiro na cidade. E, ao descobrirem que eu era brasileiro, um rapaz fez questão de ir em casa trocar de roupa e colocar uma camisa da seleção brasileira. O futebol é uma linguagem universal.




O mesmo rapaz que vestiu a camisa da seleção brasileira me levou para conhecer a casa do chefe do clã, onde fui recebido por seu filho, que portava uma enorme janbyia, a contrastar com sua pequena estatura. Lógico que ele me levou à lojinha da família, onde comprei umas lembrancinhas.


Al-Hudeidah
Situada às margens do mar Vermelho, Al-Hudeidah, a quarta maior cidade do país é um importante porto exportador de café, algodão, tâmaras e peles, bem como relevante ponto de entrada da ajuda humanitária e da maior parte das importações comerciais.
O porto de Al Hudaydah desempenha um papel crucial ao permitir que alimentos sejam importados para o país. Esse papel foi interrompido várias vezes durante a guerra civil do Iêmen.
A cidade era conhecida por produzir tecidos de algodão grosso listrado, feito à mão por artesãos realocados de aldeias próximas devido a conflito tribal para Al Hudaydah, uma cidade mais segura e em paz. A cidade também era um centro de curtimento e fabricação de sandálias. O café produzido em Al Hudaydah foi considerado um dos melhores da região.




Beit al-Faqih
Beit al-Faqih é uma cidade de pouco mais de 40 mil habitantes localizada na rota de peregrinação e comércio do Iêmen, entre Al Hudaydah e Sana’a. Grande parte de sua população trabalha hoje na indústria de tecelagem ou joalheria, mas a cidade ficou conhecida historicamente como produtora de café para exportação e o mercado de sexta-feira é um resquício do antes próspero comércio de café da cidade.




Tive sorte (ou talvez tenha sido bom planejamento da operadora de turismo) de estar na cidade em uma sexta-feira e, como adoro ir a mercados, lógico que aproveitei para sentir a atmosfera da vida comunitária. Como em todo o restante do Iêmen, os habitantes da cidade sentem-se felizes em tirar fotos, o que é excelente para um visitante aficionado por fotografia.





Como sempre faço em viagens, comprei muitas frutas, já que sou vegetariano. E posso dizer que as frutas produzidas no Iêmen são deliciosas: sem agrotóxicos e com o gosto de amadurecimento natural. Um dos meus maiores prazeres ao cair da tarde em todos os dias em que estive no Iêmen era tomar um suco de frutas feito na hora. É imperdível.
O queijo também é maravilhoso.










Zabid
Zabid, uma das mais importantes cidades islâmicas do mundo e uma das cidades mais antigas do Iêmen, é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1993. A cidade não é grande, porém tem mais de cem mesquitas. Um dos companheiros do Profeta Muhammad nasceu em Zabid e mandou construir a Grande Mesquita da cidade ainda durante a vida do Profeta. Segundo a tradição, esta é a quinta mesquita construída na história do Islã e ocupa um lugar de destaque na cidade. Devido ao mau estado de conservação, o local, a pedido do governo iemenita, foi incluído em 2000 na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo.




Ta-izz
Ta-izz é uma cidade situada a aproximadamente 1400 metros. A atividade econômica mais tradicional e importante na cidade desde o século XX é a produção de café. A cidade é muito limpa e organizada. As construções são de pedra, abundante na região.




Ta-izz é uma das cidades mais industrializadas do país, com destaque para a produção de tecelagem com algodão, fabrico de joias e queijos. O queijo é delicioso.




Jiblā
Jiblā é uma cidade no sudoeste do Iêmen, a cerca de 2.200 metros de altitude. A cidade e seus arredores foram adicionados à Lista Provisória do Patrimônio Mundial da UNESCO devido ao seu valor cultural universal.
Está localizada na cidade a histórica mesquita construída entre os séculos XI e XII pela Rainha Arwa al-Sulayhi, cujo túmulo se tornou local de peregrinação e de grande importância como uma das mais antigas mesquitas iemenitas.




Era um sábado, o dia de descanso para os muçulmanos. Como em todo o mundo, as crianças vestiam suas melhores roupas, caminhando entre vielas que há séculos são pisadas por muitos pés.





Ao descobrir a nacionalidade do único visitante da cidade, um dos vendedores do mercado alardeou no megafone para que todos viessem me ver.





Ibb
Ibb, situada no cume de uma montanha rodeada por terras férteis, é uma das cidades de médio porte mais importantes do país. Devido à sua altitude elevada, é uma das áreas mais úmidas do Iêmen, motivo que levou muitas pessoas migraram para lá, de áreas do Iêmen que estavam passando por seca, em busca de trabalho na agricultura.
A cidade é conhecida por suas casas de pedra imponentes, com frisos geométricos e vitrais circulares. A mesquita principal foi construída durante o período otomano, e existem outras mesquitas e também uma fortaleza nas proximidades, fechada à visitação.





Dar al-Hajar
O Dar al-Hajar é um antigo palácio real localizado em Wadi Dhar, a cerca de 15 quilômetros de Sana’a. Construído na década de 1920 como um retiro de verão do então governante, o palácio permaneceu na família real até a revolução do Iêmen em 1962 e é agora um museu.




Não à toa, Dar al-Hajar foi cenário para o filme As Mil e Uma noites de Pasolini. É um lugar com uma beleza única, com o branco das grades contrastando com a cor de adobe e com as luzes dos vitrais coloridos. É realmente lindo.





Como em todo o Iêmen, as crianças adoram tirar fotografias, um prazer sempre renovado para um amante de fotos.





Thula
Thula, uma cidade muito bem preservada e que inclui casas tradicionais e mesquitas, é uma das cinco cidades do Iêmen incluída na Lista Provisória do Patrimônio Mundial da UNESCO. Investigação arqueológica descobriu na cidade ruínas com arquitetura de pedra maciça do período de Sabá.





O que mais me marcou na cidade foi a alegria das crianças em tirarem fotos, algo muito raro em países muçulmanos.





A cisterna da cidade estava em construção e até os pedreiros paravam de trabalhar para se deixarem fotografar.










Hababah
Hababah é uma aldeia próxima a Sana’a, cujo atrativo principal é uma grande piscina, usada pelos habitantes para se refrescar no calor escaldante. A alegria das crianças, mas também de alguns adultos, é contagiante.





Shibam Hadramawt
Shibam Hadramawt, uma cidade com cerca de 7.000 habitantes datada do século III, é conhecida por seus prédios altos feitos de tijolos de barro e chamada de “Chicago do Deserto” ou “Manhattan do Deserto”.
A cidade, incluída em 1982 pela UNESCO na Lista do Patrimônio Mundial, passou em 2008, ano em que eu estive lá, por um ciclone tropical que a inundou. A cidade ainda sofreu danos provocados por um carro-bomba durante a Guerra Civil e por bombardeio da coalizão na área, o que motivou a UNESCO em 2015, a listar a cidade como patrimônio cultural em risco.
A cidade de Shibam é conhecida por sua arquitetura distinta. As casas são feitas de tijolos de barro, que podem se erguer de 5 a 11 andares. Muito embora Shibam já exista há cerca de 1.700 anos, a maioria das casas da cidade se origina do século XVI e muitas foram reconstruídas inúmeras vezes nos últimos séculos.
Shibam, chamada frequentemente de cidade arranha-céu mais antiga do mundo, é um dos mais antigos e melhores exemplos de planejamento urbano baseado no princípio da construção vertical. A cidade tem alguns dos edifícios de barro mais altos do mundo, alguns deles com mais de 30 m de altura, sendo, portanto, os primeiros edifícios de apartamentos altos.
Os edifícios de tijolos, frequentemente ameaçados pelo vento, erosão da chuva e calor, requerem manutenção constante com a aplicação de novas camadas de lama para manter suas estruturas. A cidade foi fortemente afetada em 2008 pelas enchentes de um ciclone tropical e as fundações de muitos dos edifícios da cidade foram comprometidas pelas águas da enchente, levando ao colapso. Também foi alvo de um ataque da Al Qaeda em 2009. Em 2015, Shibam foi adicionada à lista de locais do Patrimônio Mundial em Perigo quando uma violenta guerra civil eclodiu no Iêmen. Os edifícios históricos foram significativamente danificados durante o bombardeio pesado em Sana’a e permanecem sob risco de conflito armado.





Kawkaban
Kawkaban é uma cidade localizada no distrito de Shibam Kawkaban e contém uma cidadela fortificada a cerca de 2.900 m acima do nível do mar. A cidade foi construída no topo de uma colina íngreme, murada no norte e fortificada naturalmente nas outras direções. A cidade é conhecida como Shibam Kawkaban porque está localizada em uma montanha chamada Kawkaban. Foi o lar de uma comunidade judaica até o seu desaparecimento em meados do século XX.
A cidade possui várias mesquitas antigas: al Madrasa, al Mansoor, al Sharefa e Harabat. O antigo mercado está localizado no meio da cidade. Antigos reservatórios de água da chuva também podem ser vistos na cidade fortificada.
Em fevereiro de 2016, a coalizão liderada pelos sauditas e apoiada pelos EUA atingiu a cidadela da cidade matando sete residentes e destruindo o portal histórico, bem como casas de 700 anos de idade.





At-Tawilah
At- Tawilah é uma aldeia a aproximadamente 50 km de Sana’a. Embora seja tão próxima à capital, ainda é muito isolada, com muito pouco contato com o exterior, o que se pode ver na felicidade com as crianças se deixavam fotografar.





Não deve ser uma aldeia abastada, pois as janelas são comuns e não janelas antigas de obsidiana. Pelo menos foi essa minha impressão.








Al Mahwit
Al-Mahvit, situada a aproximadamente 2000 metros de altitude, tem sua parte velha em torno da fortalezas na montanha e manteve-se extremamente isolada do mundo exterior até 50 anos atrás. A área montanhosa atrai mochileiros por ser rodeada de wadis ideais para caminhadas e de aldeias encravadas nos rochedos.
Al Mawhit tem um clima desértico, com dias quentes e noites frescas, e depende de ajuda governamental com a agricultura, em que sobressaem plantações de milho, tabaco e café.





Como toda cidade do altiplano iemenita, sobressai a pedra, com um pouco de verde da vegetação.





Bokhur
Como já era quase fim do tour, o motorista doublé de guia se permitiu incluir alguns pontos de interesse próprio. Na estrada de Al-Mahvit a Zakhati, paramos em um acampamento de beduínos amigos dele, pois ele tinha alguns assuntos a resolver. Meu motorista aparece na primeira foto de camisa branca e jaqueta cinza. Pode-se ver na terceira foto o patriarca do clã de beduínos.




Uma das coisas que chama a atenção no Iêmen é a absoluta falta de presença feminina nos espaços públicos. Aliás a desigualdade de gênero no Iêmen é notória: quase 50% das mulheres é iletrada. São sotalmente proibidas da falar com qualquer homem que não seja de suas famílias. Mesmo nos vilarejos remotos, onde a mulher é mão de obra necessária, ela trabalha sem burca, mas sempre com o rosto totalmente coberto. A foto abaixo foi tirada de teleobjetiva.




Zakhati
Em todo o Iêmen, a pedra é aproveitada para a construção, até mesmo sem argamassa, apenas a superposição de grandes pedras. E a harmonia da arquitetura ao meio ambiente é total. Parece que as casas são parte da montanha.





Serviço
Sempre quis fazer uma volta ao mundo. Em 2008, finalmente consegui realizar meu sonho, com passagem emitida por milhas Sky Team, da Air France. As restrições da passagem eram basicamente duas: viajar em um único sentido (leste-oeste ou oeste-leste) e fazer apenas cinco paradas, sem contar a partida e contando a chegada. Uma open jaw no meio contaria como uma parada.
Eu me preparei com anos de antecedência para a volta ao mundo. Pra começar, fiz questão de me tornar cliente ouro da Sky Team, pois, mesmo voando de classe econômica, eu teria alguns privilégios nos aeroportos, como acesso a lounge. Em 2008, bagagem era sempre gratuita, portanto franquia de bagagem não era um quesito importante. Hoje seria.
Gastei muitos dias tentando combinar viagens e destinos que me interessassem. Como a própria Air France/KLM só voa de ou para a Europa (Paris/Amsterdam), os outros destinos teriam que ser cobertos por companhias aéreas parceiras. Lógico que com destinos mais procurados eu teria mais flexibilidade de voos.
Minha primeira decisão foi escolher o sentido leste-oeste, cuja recuperação do jet lag é mais rápida. O ideal para se recuperar do jet lag é ir dormir sempre no horário normal e, como, no sentido leste-oeste o corpo está à frente do horário local, é fácil dormir. No dia seguinte, o corpo já está recuperado. Já estamos acostumados, por exemplo, a precisar de dias para a recuperação de uma viagem do Brasil à Europa, por exemplo: o corpo quer ficar acordado e já é tarde da noite no horário local.
Depois de muita tentativa e erro, meus principais destinos pela viagem de volta ao mundo emitida por milhas da Sky Team obtidas por voos Air France foram:
- Rio-Tóquio
- Tóquio-Phnom Penh
- Singapura-Dubai
- Dubai-Istanbul
- Istanbul-Roma
- Roma-Rio.
Numa viagem de volta ao mundo eu poderia combinar lugares bem estruturados para o turismo com outros off track. Aproveitei para incluir lugares aos quais eu dificilmente iria como destino único, até mesmo pela risco de não ficar completamente satisfeito. Com isso, incluí os seguinte pulos;
- Phnom Penh-Siam Reap-Singapura
- Dubai-Sana’a-Dubai.
Fiz um tour no Iêmen por cinco dias começando em Sana’a e não poderia ter ficado mais satisfeito. O Iêmen foi um pulo de Dubai por 5 dias enão poderia ter ficado mais satisfeito, tanto com os destinos nas rotas tradicionais, quanto off track.
Escolhi como operadora de turismo a Universal Touring Company, cujo mote é “Your Guide Throughout Arabia Felix”.
http://universalyemen.com/en/index.php/our-companies/6-universal-touring-company
O tour incluiu os voos da Emirates partindo e chegando de Dubai, mas começou (Arr. Flight EK 961 On 7-8-2008 at 8:30) e terminou em Sana’a (Dep. Flight EK 962 On 13-8-2008 at 10:00).
Detalhes do tour
- Wednesday 07/05/2008
- Fly from Dubai to Sana’a by Ek (Emirates Airlines) at 7:00 am, Arrival Sana’a at 8:30, meet, assist and transfer to the hotel for check -in. rest of the day Sana’a Sightseeing, visit national and military museums, Old Sana’a City, Bab Al-Yemen, Al-Saela and Suq Al-Milh. Lunch at Abdul-Qawi Al-Shaibani Restaurant. Overnight at Sam City Hotel.
- Thursday 08/05/2008
- Departure from Sana’a to Hodeidah Via Manakha and al-Hajara with visit for Bait Al-Amir, Husn Al-Haimi and Juma’a. Lunch at Al-Aqel Restaurant. Overnight at Taj Awsan Hotel.
- Friday 09/05/2008
- Morning visit Fish Market then Departure from Hodeidah to Taiz via Bait Al-FaqihZabid and Wadi Zabid. Lunch at Zabid Rest House. Overnight at Yemen Tourism Hotel.
- Saturday 10/05/2008
- Visit Taiz then return to Sana’a via Jibla and Ibb. lunch at Ibb Touristic Park. Overnight at Sam City Hotel.
- Sunday 11/05/2008
- Full day exursion to Wadi Dhahar, Thula, Hababa, Shibam, Kawkaban, Zakati and Bukur. Lunch at Hameeda Local Restaurant. Overnight at Sam City Hotel.
- Monday 12/05/2008
- Full day excursion to Mareb, Visit old and new dams, the temples of the moon and of the sunand Al-Jufainah Dam. Lunch at Belquis Hotel. Overnight at Sam City Hotel.
- Tuesday 13/05/2008
- Transfer to the airport for departure by EK at 10:00 am.
O preço do tour foi o que segue.
Item | USD (25/03/2008) | BRL (25/03/2008) |
The price includes: Airport transfers 2 ways, transportation by one 4WD Land Cruiser car with driver and gasoline, accommodation in one SGL room on H/B ( bed, breakfast and lunch ) at 3* hotels as per the itinerary, mineral water with ice box in the car during the tour, entrance fees for museums and %5 Government tax. The price above does not include: Tourist guide, dinner, international flight tickets, entry visa and tips or any other personal expenses. | 790,00 | 1.369,31 |
Supplement for international air tickets Dubai/Sana’a/Dubai. | 490,00 | 849,32 |
Supplement for entry visa to Yemen. | 80,00 | 138,66 |
Total | 1.360,00 | 2.357,29 |
Uma taxa de 132 USD/noite para tour privado de hotel 3* single e motorista doublé de guia e meia pensão está barato. Levando em conta que hotel e almoço não ficaria mais de 20 USD por dia, a relação custo/benefício do tour é muito favorável ao turista.
Para um vegetariano, é sempre uma decisão difícil comprar um pacote turístico com meia pensão ou pensão completa. O orçamento de uma refeição é sempre compatível com uma refeição padrão, que inclui carne. Pagar por uma refeição completa e comer apenas arroz e salada é sempre um desperdício. E, se o almoço está incluído, o motorista sempre vai escolher um restaurante de agrado dele e não do turista vegetariano. Mesmo por que ele não sabe onde levar um vegetariano, já que acha que comida boa é comida com carne. Por outro lado, o motorista doublé de guia está viajando junto e certamente precisa se alimentar. No fim, sempre escolho meia pensão, mas deixo claro na negociação com o agente de viagem para enfatizar com o motorista que eu sou vegetariano. O ajuste fica pela gorjeta: gostei do serviço, gorjeta boa; não gostei, gorjeta menos boa.